Está tudo limpo, sol maravilhoso, mesa farta e colchão
fofo, mas eu estou preso. Encarcerado nos meus sonhos e ideais. Não só neles,
mas também nas paredes invisíveis dessa atual composição de sociedade.
Eu quero, eu posso, mas não ouso fazer, isso porque a
tropa de choque do “se eu fosse você pensaria bem antes de fazer isso” me
encurrala. Prendo meus impulsos nas minhas entranhas, tentando nessa última
tentativa guardá-los das vistas desses caçadores de anormalidades.
Não consegui, deixamos para a próxima, essa não é a
primeira vez que eu perco um sonho, já me acostumei com essa dor, ele morreu dominado,
uma gravidez levada por quase 20 anos e no dia do parto o cordão umbilical por
um azar caiu pala o lado errado. Procurei todas as palavras, mas na minha cela
a única que me deixaram jogada foi a expressão “por um azar”, pois bem, assim
seja.
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