18 de setembro de 2012

frescor do passado

Por inúmeras vezes já me flagrei acordando, ou indo dormir, refletindo sobre a data do meu nascimento. Eu nasci na época errada? Só pode! Depois que eu assisti Meia-Noite em Paris os flashes dessa constatação estão cada vez mais presentes na minha rotina.
Nessa minha época as pessoas são abobalhadas, não possuem visão crítica. Das que imaginam possuir, umas 60% são analfabetas funcionais, com diploma de ensino superior, mas que falam abobrinhas pelos cotovelos em uma discussão que não entenderam o que a frase inicial do assunto queria dizer.
Eu não quero essa época onde as pessoas escutam música chata, comem biscoitos sem açúcar, decoram apenas horóscopos e correm na chuva de capa. Eu quero tomar uma overdose de heroína, conviver com a sombra da AIDS rondando as minhas seringas, ficar corcunda, porque carrego na minha mochila 12kg de livros, e levar porrada do exército enquanto viro uma estrelinha na frente do batalhão, eu quero a minha época certa. Ela passou e eu me atrasei, essa é a única explicação que eu encontro para esclarecer o fato de eu sempre ser a peça que fica no tabuleiro do resta um.

14 de setembro de 2012

duro


rede


Quando você cai na rede, parede, redemoinho, redenção, predestinado. Ninguém sabe como você caiu lá, mas é lá que você está, aqueles bonecos de cabeça amarela, com braços que parecem chaves de roda, estão lá apenas para não deixar o balanço da vida cessar.
Como em uma linha imaginária, hora você se encontra no calor de um dia iluminado pelo sol, hora na depressão e na clareza de um dia após a chuva. Nada é mais belo e ao mesmo tempo depressivo do que um dia após a tormenta. A rua está limpa, aquele espírito mundano se esvaiu pelo bueiro, as pessoas passam e você sente o cheiro de gente, não de bonecos amarelos. O problema é que em algum momento o sol volta, pra te secar, te aquecer, fazer evaporar a água, formar nuvens e depois sumir, sem avisar, te deixando na mão e sem guarda-chuva.
É nesse momento, sem guarda-chuva, que os amarelinhos voltam, com toda força, mas eles não te derrubam da rede, pois eles não querem que você saia dela, querem que você se exponha ao calor e ao frio, lutam para que você contraia pneumonia e por conseqüência sofra em uma cama hospitalar, aí sim, o derradeiro descanso, sem balanço, olhando pela vidraça os pingos de dor que caem do céu, dor de um destino que sofreu um acidente.