Por inúmeras vezes já me flagrei acordando, ou indo
dormir, refletindo sobre a data do meu nascimento. Eu nasci na época errada? Só
pode! Depois que eu assisti Meia-Noite em Paris os flashes dessa constatação
estão cada vez mais presentes na minha rotina.
Nessa minha época as pessoas são abobalhadas, não
possuem visão crítica. Das que imaginam possuir, umas 60% são analfabetas
funcionais, com diploma de ensino superior, mas que falam abobrinhas pelos
cotovelos em uma discussão que não entenderam o que a frase inicial do assunto
queria dizer.
Eu não quero essa época onde as pessoas escutam música
chata, comem biscoitos sem açúcar, decoram apenas horóscopos e correm na chuva
de capa. Eu quero tomar uma overdose de heroína, conviver com a sombra da AIDS
rondando as minhas seringas, ficar corcunda, porque carrego na minha mochila 12kg
de livros, e levar porrada do exército enquanto viro uma estrelinha na frente
do batalhão, eu quero a minha época certa. Ela passou e eu me atrasei, essa é a
única explicação que eu encontro para esclarecer o fato de eu sempre ser a peça
que fica no tabuleiro do resta um.