29 de dezembro de 2012
26 de dezembro de 2012
desconforto
Nasci assim: desconfortável. Em
um comentário recente da minha mãe, ela lembra de que quando eu era um bebê,
não fica mais de uma hora na mesma posição, sem chorar, podia estar em sono
profundo, em berço esplêndido, mas o desconforto me acometia de tal forma que
meu instinto me fazia berrar desesperadamente.
Conheço gente que consegue deitar
na cama sem lavar os pés, sair cedo de casa sem tirar a remela dos olhos, matar
mosquito com o lençol, ganhar R$ 100,00 e gastar R$ 200,00, jogar futebol com
bermuda de jeans, porém eu não consigo, isso me sufoca. Por mais simples que
seja o fato, diria natural, eu definitivamente não nasci pra isso, nunca agi dentro
dos padrões de normalidade.
Na pré-escola meus desenhos eram
de apenas uma cor: amarelos. Qualquer cor que não fosse amarelo era
desconfortável para mim, um dia a professora me obrigou a pintar um anjo de
azul, pintei, o anjo morreu e o amarelo também. Todas as imagens coloridas por
mim, pelo resto do ano, foram em tons de cinza.
Passei meses sem sentir a cor da vida na ponta dos
dedos, estou recuperado, hoje as cores não me embrulham mais o estômago, mas
sim que as pinta.
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